segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Os universitários: A nossa responsabilidade pendente?


“Há três anos que cheguei com a minha mulher a Barcelona. A primeira e única igreja que visitámos foi esta. Gostámos tanto, que nem sequer nos demos ao trabalho de procurar outra congregação que pudesse ser melhor.”

A pessoa que me disse isto chama-se David Smith, é australiano, aparenta ter menos idade do que os 36 que afirma ter, e, actualmente, trabalha como investigador matemático numa das universidades mais prestigiadas de Espanha.
Smith não mo diz com palavras, mas transmite-o com a sua atitude, com o seu sorriso e o seu entusiasmo: os Domingos são uma festa na qual se sente protagonista.
Este matemático australiano é cristão, mas não Adventista. Pertence à Igreja Internacional de Barcelona (International Church of Barcelona – ICB), uma igreja não denominacional que aluga o local de adoração à igreja Adventista de Barcelona-Urgell, a minha igreja de sempre.
Smith e eu adoramos o Senhor debaixo do mesmo tecto. Ele aos Domingos. Eu aos Sábados. Nós obedecemos ao quarto mandamentos, ele não. Mas, na minha igreja de Barcelona, poucos estudantes podem subscrever as palavras de Smith com que inicio este texto. Eles conseguem fazer com que os estudantes se sintam bem desde o primeiro encontro, nós não.
Essa pode ser uma das razões pelas quais a nossa igreja perde tantos estudantes. Tal como se pode ler nas Orientações para as Uniões, Associações e Distritos preparadas pelo Departamento de Educação da Divisão Euro-africana (DEU), “perdemos demasiados jovens quando eles saem da sua casa e da sua igreja para frequentarem faculdades, universidades e institutos técnicos”.
Há vários factores que levam os estudantes a afastar-se da Igreja, segundo explica Charly Mootien, estudante das Antilhas em Paris, num documento de acção a favor dos estudantes franceses. Por um lado, encontramos a dicotomia Igreja-Universidade, quer dizer, dois mundos que, em vez de se complementarem, se contradizem. Por outro, sobressai a cultura isolacionista herdada pelos estudantes Adventistas.
"O estudante não se sente identificado com as normas e tradições da Igreja", escreve Mootien, “e a igreja não ensina os seus jovens a ser discípulos nem os dirigentes recebem a formação adequada para cuidar dos estudantes.”
E que sucede com aqueles jovens que se mantêm na Igreja apesar de tudo? Mootien acha que a igreja acaba por tirar partido dos seus talentos sem ter em conta as suas necessidades espirituais, psicológicas, físicas e financeiras.
O Plano Estratégico para o quinquénio que começou em 2005, elaborado pelo Departamento de Educação da DEU, estabelece entre outros objectivos, zelar pelo crescimento espiritual e o sentido de missão dos estudantes Adventistas nas universidades estatais. Segundo esse documento, cumprir esse objectivo passa por fortalecer os vínculos entre a igreja e os universitários e pela organização de encontros que procurem dar resposta às inquietações dos estudantes.
O Adventist Ministry to College and University Students (AMiCUS) é o órgão encarregado de cuidar das necessidades do grupo estudantil, mas, como é lógico, o seu funcionamento e eficácia variam segundo o país, a união, a associação e, em última instância, a igreja em particular. A AEGUAE -em Portugal será a AUA? - é a versão espanhola desse projecto mundial.
A AMiCUS Europa organiza, desde 1999, encontros de universitários cada três anos. Estes programas, juntamente com outros organizados pelas diferentes instituições, são oásis no caminho, mas são insuficientes para o dia a dia. Um jovem quer sentir-se importante todos os Sábados, ou, pelo menos, que não seja um sacrifício levantar-se para ir à igreja, como alguns estudantes chegaram a desabafar comigo.
Arianna Facchini é italiana, tem 23 anos, estuda medicina e este ano desfruta de uma bolsa Erasmus em Barcelona. Peço-lhe por e-mail que me diga quais as coisas que a ajudariam a sentir-se melhor na sua nova igreja. Passados uns dias diz-me que está muito ocupada com os exames finais, mas, como o tema é muito importante, promete-me escrever logo que tenha um momento.
“A melhor forma de nos integrarmos rapidamente numa igreja é participarmos nas suas actividades. Envolver-nos num ministério, como a distribuição de alimentos aos sem-abrigo, ou inscrever-nos no coro de jovens”, escreve ela. “Desfruto com os grupos pequenos de oração que se reúnem nas casas durante a semana”, explica esta futura médica que também agradeceria ajuda quando chegar a hora de procurar alojamento e trabalho.
A 1000 km de distância, na cidade universitária de Tübingen, encontra-se, no momento em que escrevo estas linhas, Daniel Bosqued, doutorando em Teologia e futuro pastor em quem se cumpriram quase todos os desejos de Arianna: “Logo que cheguei, convidaram-nos a participar do coro de jovens e a organizar o serviço de culto que, uma vez por trimestre, está a cargo dos universitários”, recorda Bosqued com satisfação.
“O facto de os estudantes dirigirem, de forma regular, o programa de Sábado permite que se identifiquem com a igreja”, pensa este futuro pastor. Só sente a falta de mais actividades sociais, quer sejam culturais ou desportivas, mas já se sabe que para um espanhol, todo o tempo que se dedica a socializar é pouco.
“Outra das actividades que me impressionou foi o projecto evangelístico Impulse God, que nos permite mostrar uma igreja que fale a mesma linguagem que os nossos amigos da universidade”, conclui Bosqued.
Se voltarmos a França e pegarmos de novo no relatório de Mootien, veremos que estas actividades são apenas algumas das muitas que se poderiam fazer pelos jovens. A Associação Francesa de Estudantes Sophia, por exemplo, propõe cursos de desenvolvimento pessoal e orientação profissional para universitários, a cargo de profissionais adventistas.
Mas, no meu entender, tanto Mootien como o Departamento de Educação da DEU esquecem que a igreja deve trabalhar para ter uma presença na Internet. Basta darmos uma vista de olhos aos dados de audiência que indicam a Internet como o meio que mais cresce para nos darmos conta da importância deste assunto.
Segundo o último estudo da European Interactiv Advertising Association (EIAA) realizado em 2007, “pela primeira vez, os jovens entre os 16 e os 24 anos acedem mais frequentemente à Internet do que vêem televisão – 82% destes jovens usam a Internet entre 5 e 7 dias por semana, enquanto que apenas 77% vêem televisão regularmente (uma descida de 5% desde o último ano)”.
Ariana Facchini já o dizia: “É sempre bom quando te enviam mails a informar-te e a recordar-te as actividades”. Kaisa Valve, professora de música finlandesa de 36 anos que conheci na ICB, confirmou esta nova realidade: agora, as boas-vindas não são dadas à porta, dão-se na rede.
"Cheguei à ICB através da Internet. A página web desta igreja inspirou-me muita confiança. Além disso, antes de vir pela primeira vez, já ouvia há algum tempo os cultos através do Youtube”, explicou-me ela, com total naturalidade.
Navegar na Internet, enviar mails e comunicar via redes sociais (como o Myspace, Hi5 ou o Facebook) são as actividades mais populares na web, segundo o mencionado estudo de EIAA. No meu entender, isto revela a necessidade de que cada igreja desenvolva uma web atractiva, de que as actividades para os estudantes sejam publicitadas por mail e de que os pastores e líderes de jovens entrem numa dessas redes sociais.
Gostaria de terminar com uma pequena história que vivi no último congresso de jovens da DEU, celebrado na Polónia. O auditório estava cheio de jovens europeus de diferentes nacionalidades que ouviam um dos pastores que nos dirigiu a palavra. “Vocês são o futuro da igreja!”, dizia-nos ele com entusiasmo.Eu sou jovem, e não me considero o futuro da igreja, do mesmo modo que também penso que os meus avós não são o passado da mesma. Nós, os jovens, somos o presente da igreja, porque o corpo de Cristo é constituído por uma variedade de talentos encarnados em pessoas de diferentes idades. Se os nossos pastores e administradores pensam que nós, os universitários, somos o futuro da igreja, que não se surpreendam se formos procurar noutro lugar o presente que precisamos de viver.

Ruben Sánchez Sabaté

Artigo de opinião enviado pela Divisão Euro-África da Igreja Adventista
para todos os Departamentos de Educação.

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