ARTIGO DE FUNDO
Jimmy Phillips
Coordenador de Marketing e Comunicação
Hospital Distrital de San Joaquin, Califórnia
(LEAD)
Um número cada vez maior de jovens adultos não encontra nas igrejas locais o apoio espiritual de que precisa. Qual é a solução?
Olá! Sou o Jaime.
Acabei o meu curso universitário, tenho um trabalho, e acabei de de mudar para um lugar a mais de 1000 km de distância de tudo o que sempre conheci.
Nasci e cresci Adventista do Sétimo Dia. Colava feltros na Escola Sabatina e recitava versículos de memória no décimo terceiro Sábado. Trabalhei nos acampamentos de Verão e fiz colportagem. Dirigi reuniões de oração na escola e fui orador na cerimónia da minha graduação. Durante os passados 22 anos – quer fosse por escolha dos meus pais, por preferência ou proximidade – a igreja tem sido uma parte integrante da minha vida. E tanto a lógica como a tradição dizem que continuará a sê-lo.
Mas, neste momento, a lógica e a tradição estão a ser postas em cheque pela realidade.
A realidade diz que, ao procurar um novo local de adoração, só vou frequentar uma certa igreja três vezes antes de decidir se ela é capaz ou não de responder às minhas necessidades.1 Se não, vou para outro lugar... ou para nenhum.
A realidade diz que uma em cada cinco igrejas Adventistas na América do Norte não tem uma única criança nem um adolescente – muito menos alguém da minha idade. De facto, a média de idades nestas igrejas anda à volta dos 60 – 20 anos mais velha do que o americano médio.2
A realidade diz que, como Adventista baptizado desde a minha adolescência, há 50% de probabilidades de eu sair completamente da igreja quando chegar aos 25 anos.3
Uma análise rápida destas estatísticas devastadoras, dá-nos o seguinte resultado: hoje, a nossa igreja está a envelhecer. Ao mesmo tempo, por falta de cuidados, de envolvimento e de relacionamentos significativos, a igreja de amanhã está a ir-se embora... como água por entre os nossos dedos.
Isolando o problema
Todos concordamos em que há um problema. Mas a pergunta pertinente é: Porque é que os jovens adultos estão a deixar a igreja a um ritmo tão alarmante?4
No Outono de 2008, um grupo das mentes mais brilhantes da América do Norte, Austrália e Europa encontrou-se na Universidade Andrews, para o “Simpósio dos 180º” de 2008. O tema? Recuperar e reter os jovens adultos na igreja Adventista de hoje.
Das pesquisas e discussões colectivas emergiu uma sinopse que continha as cinco chaves mais importantes para manter os jovens adultos apaixonados pela sua igreja:5
• Eles devem ter uma identidade forte, com a qual possam moldar a sua fé.
• Devem ser intencionalmente envolvidos pela liderança da igreja.
• Devem ser cuidados através de uma espiritualidade autêntica baseada numa relação com Jesus Cristo.
• Devem ter responsabilidades activas no serviço através de oportunidades de evangelismo na igreja e na comunidade.
• A quinta chave – relacionada sem dúvida com as outras quatro – é bastante simples, mas continua a ser o factor individual mais importante na retenção dos jovens adultos e na recuperação daqueles que se afastaram: quer seja com um casal de meia-idade ou com um pastor bem-humurado, com um enérgico jovem da mesma idade ou com uma avózinha, para que os jovens adultos fiquem, devem ter relacionamentos genuínos dentro da família da sua igreja.
Reparem numa coisa acerca destes cinco pontos: Em nenhum deles se encontram os tão criticados “grandes problemas” – estilo de música e estrutura de serviço – que provocam os conflitos constantes que, muitas vezes, criam as divisões geracionais da nossa igreja. Tentem. Tentem encontrar jovens adultos ligados a uma igreja através de relacionamentos saudáveis e espiritualmente satisfatórios e que se ponham a discutir acerca de preferências de estilo na adoração. Não encontram.
O estilo do serviço de adoração só se torna um problema quando faltam os relacionamentos significativos.
Num esforço para entender os desejos dos jovens adultos, o Centro para Evangelização da Juventude dirigiu um estudo que pedia aos inquiridos que classificassem a importância de 28 variáveis na determinação do seu desejo de frequentar uma certa igreja. Os participantes tinham uma escala de 1-3 com a qual classificavam cada categoria, significando 1 “Não importante” e 3 “Muito importante”. A pontuação máxima, com uma média de 2,88, foi para “ambiente de aceitação”, enquanto que o terceiro lugar foi simplesmente para “comunidade”.
Tem tudo a ver com relacionamentos.
Na sua análise dos motivos que levam os jovens Adventistas a deixar a igreja, Roger Dudley descobriu que uma “das razões mais importantes apontadas pelos que saem é que se sentem não aceites”.6 Mais ainda, um estudo feito por Rainer e Rainer de 1000 jovens adultos que deixaram a igreja revelou qual é a segunda motivação mais importante para sair: “os membros de igreja pareciam críticos ou hipócritas”.7
Este não é um fenómeno novo. Ellen White observou-o no seu tempo: “A sociabilidade cristã é, em geral, muito pouco cultivada pelo povo de Deus... Através do relacionamento social, as pessoas conhecem-se e formam-se amizades que resultam numa unidade de coração e numa atmosfera de amor”.8 “Se nos humilhássemos perante Deus, e fôssemos gentis, corteses, carinhosos e piedosos, haveria cem conversões à verdade onde agora há apenas uma”.9
Os jovens adultos querem ser aceites tal como são e incluídos sem reservas na comunidade.
Então, como é que fazemos que isso aconteça?
Providenciando o Santuário
à medida que os israelitas se aproximavam da Terra Prometida, Deus sabia que a segurança e a protecção – especialmente dos menos merecedores – era de extrema importância. Assim, Ele ordenou que seis cidades de refúgio fossem estabelecidas, nas quais as pessoas que tivessem acidentalmente morto outro israelita pudessem escapar à vingança, graças ao abrigo providenciado por uma comunidade dedicada a esse objectivo.10
Outro exemplo da perspectiva prática da Bíblia, esta infraestrutura do Velho Testamento deu o exemplo para um projecto no Centro para Evangelização da Juventude – um projecto que está a começar a brilhar com vigor. Chama-se “Igreja de Refúgio”.
A missão da “Igreja de Refúgio” é “ajudar as igrejas a desenvolverem e a praticarem um ministério relevante e significativo junto dos jovens adultos, com o objectivo de conservar os jovens adultos Adventistas na igreja, ao mesmo tempo que também procuram alcançar aqueles que não estão actualmente a participar de uma congregação Adventista”.11 Este ministério de apoio dedica-se a ajudar as igrejas Adventistas a responderem melhor às amplas necessidades dos jovens adultos.
“As Igrejas de Refúgio preocupam-se com as necessidades espirituais dos jovens adultos e cuidam delas”, diz Ron Whitehead, director executivo do Centro para Evangelização da Juventude. “Mas também se preocupam com o bem-estar social e físico dos jovens adultos.”
Numa igreja, um jovem que não tinha seguro de saúde, precisava desesperadamente de um tratamento dentário. Em vez de simplesmente orar pedindo a solução do problema, esta igreja encontrou um dentista na congregação que se dispôs a realizxar o tratamento gratuitamente. Como diz o velho provérbio: “Não dês uma Bíblia a um homem faminto”, esta igreja entende que a plenitude espiritual está relacionada com todas as facetas da vida. Ser uma Igreja de Refúgio é isso mesmo.
Para se tornar uma “Igreja de Refúgio”, a igreja tem de passar por um processo de certificação, registando-se, em primeiro lugar, na Rede de Igrejas de Refúgio (www.churchofrefuge.org). O passo seguinte, é que essa igreja deve providenciar uma descrição escrita de como estão a fazer as coisas em nove áreas fundamentais para envolver os jovens adultos.12 Depois de a equipa de certificação estar convencida de que a igreja é “verdadeiramente uma comunidade segura, apoiante e envolvente” para os jovens adultos, receberá a certificação da “Igreja de Refúgio” e será incluída na listagem do sítio da Internet. Para garantir uma credibilidade constante, as igrejas devem apresentar anualmente um relatório actualizado para renovar a certificação.
“Imaginem que, depois do fim do curso universitário ou de uma mudança, os jovens profissionais têm acesso a um sítio onde podem ver uma lista de igrejas organizadas para cuidarem das suas necessidades”, disse Whitehead. “Isso não resolverá todos os problemas, mas, pelo menos, os jovens adultos terão um lugar por onde começar.”
O nosso sítio na Internet (que deve começar na Primavera deste ano) proporciona mais do que uma referência para os jovens adultos e uma ferramenta publicitária para as igrejas. Com fórums, blogs e notícias actualizadas, o sítio da “Igreja de Refúgio” é uma mais-valia vital no fornecimento de informação pertinente e na ligação das igrejas locais com a organização-mãe, com a liderança pastoral e umas com as outras.13
“As igrejas não podem pensar que os estudantes universitários e os jovens profissionais vão decidir passar o seu tempo livre na igreja simplesmente porque é a coisa certa a fazer”, diz Whitehead. “Eu gosto do evangelismo – mas alguém tem de começar a falar da porta das traseiras.”
Felizmente, o Centro para Evangelização da Juventude está a fazer muito mais do que falar.14
Aceite simplesmente
À medida que ela se aproximava do jovem pastor, o seu coração começou a bater a alta velocidade. E porque não? Afinal de contas, ela não passava de uma inútil prostituta. Enquanto avançava para Ele, através do hall de entrada da igreja, ela sentia os olhares frios e os sobrolhos carregados.
Eu não pertenço aqui.
Então Ele viu-a. Com uma gentileza na voz que ela nunca tinha ouvido, Ele perguntou-lhe como se chamava.
“Maria”.
“É bom conhecê-la, Maria. Eu sou Jesus”, respondeu Ele. “Tem fome? Vamos ter um almoço de confraternização hoje, e é muito bem-vinda, se quiser juntar-se a nós.”
Será que Jesus concordava com a vida de prostituição de Maria Madalena? De modo algum. Mas para Jesus, concordar não era, nem é hoje, um pré-requisito para aceitação.
Para nós também não tem de ser.
Já há demasiado tempo que permitimos que diferenças de idade, de vestimenta, de alimentação, de música e de vocabulário nos enganem e levem a pensar que não podemos existir como uma comunidade coesa. As lutas provocadas por essas preferências sem valor têm destroçado relacionamentos, diminuindo a nossa eficácia nas coisas que realmente são importantes.
Tentar não perder metade dos nossos jovens adultos pode parecer uma batalha difícil.
E é.
Mas isto não tem nada a ver com estatísticas, e sim com salvação.
Tal como o menino que atirava estrelas do mar uma a uma de novo para o oceano; aceitem incondicionalmente, amem entusiasticamente, e o vosso impacto será sentido – numa vida de cada vez.
Ah, e comida gratuita também nunca fez mal a ninguém.
Referências
1. Segundo Ron Whitehead, do Centro para Evangelização da Juventude.
2. Citado por A. Allan Martin, Ministry International Journal for Pastors, Julho de 2008.
3. Roger Dudley, Why Our Teenagers Leave the Church (2000).
4. Jovens adultos definidos como tendo entre 18 e 35 anos.
5. Um livro contendo todos os materiais apresentados no Simpósio estará disponível esta Primavera em AdventSource.
6. Dudley, op. cit.
7. Ver nota 4, acima.
8. Ellen G. White, Testemunhos para a Igreja, vol. 6, p. 172.
9. White, Testemunhos para a Igreja, vol. 9, p. 189.
10. Números 35:9-15; ver também Deuteronómio 19:1-10.
11. Ron Whitehead e Jeff Boyd, Church of Refuge: A Support Ministry for Youth and Young Adults (2008).
12. Baseadas no ensino bíblico, na experiência pastoral, nos escritos de Ellen White e na pesquisa original do Centro. Ver o sítio indicado acima para uma lista das nove áreas.
13. Whitehead e Boyd, op. cit.
14. Para mais informação sobre como tornar-se uma Igreja de Refúgio, ir ao sítio mencionado.
(CAIXA)
Não está desamparado – Faça alguma coisa!
Por Jimmy Phillips
Bom, na verdade isto não é uma solução rápida unilateral. Como jovem adulto que procura envolver-se apaixonadamente na igreja, aqui ficam algumas maneira de seres procativo acerca da tua comunidade espiritual.
• Procura igrejas possíveis. Quando se vai a uma entrevista para um emprego numa nova localidade, é vulgar procurar informação sobre escolas, habitação e tipo de comunidade. Antes de mudares para uma nova área, verifica também, com oração, as opções de igrejas naquela zona. Uma única visita pode dizer-te muita coisa. Se estás decidido a participar numa igreja, fazer um pequeno trabalho de casa sobre as igrejas locais é uma maneira importante de te ajudar a descobrir a comunidade espiritual em que vais ficar.
• Alarga a comunidade. Uma verdadeira comunidade adora junta, trabalha junta e brinca junta. Não esperes que isso aconteça. Organiza uma equipa da igreja para participar em eventos desportivos da comunidade, coordena projectos regulares de evangelismo, ou anima um estudo bíblico semanal. Não precisas da autorização de ninguém para te pores em campo.
• Não esperes por eles. Se esperamos que as gerações mais velhas nos estendam a mão em aceitação incondicional, devemos ter a atitude recíproca. Começa uma conversa, ajuda a limpar o pátio ou convida alguém para uma refeição (mesmo que tenhas que a ir comprar). Ficarás surpreendido com as bênçãos que vais receber dessas novas e inesperadas amizades.
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